Assim que nasce um bebé e se desenvolve uma criança, cria-se ou recria-se uma família que se alimenta de sonhos, expectativas, ajustes, desajustes e reformulações.
Quando, no entanto, parecem existir sinais perturbadores do desenvolvimento de um filho, que se revelam logo ao nascimento ou num período posterior, gera-se, no seio familiar, um carrossel de inseguranças, sensações de vulnerabilidade e de incapacidade e períodos de grande ansiedade por não se saber o que fazer e qual o caminho certo a seguir. Este cenário de maior angústia parental revela-se totalmente compreensível e natural, mas demanda ajuda e acompanhamento, a fim de se orientar rumo a uma direção mais segura e tranquila.
Alterações no desenvolvimento da criança
Geralmente, nas situações em que o desenvolvimento não ocorre de acordo com o esperado para a idade, é, muitas vezes, referido aos pais que a criança precisa de ter o seu tempo e espaço e que o melhor a fazer será esperar. Todavia, vejamos, se a primeira infância é a altura de maior desenvolvimento cerebral, esta acontece a uma velocidade extraordinária e perturbações nesse mesmo período podem ter repercussões para toda a vida, qual o sentido de esperar?
Esperar e dar tempo pode significar, em alguns casos, atrasar o desenvolvimento e prejudicar trajetórias com potencial de evolução.
Portanto, a chave para caminhos de maior sucesso e melhor é a premissa de que quanto mais precocemente se verificar estimulação, melhor prognóstico de desenvolvimento haverá.
Primeira infância e a plasticidade cerebral
Hoje, mais do que nunca, sabe-se que a primeira infância, a qual ocorre desde o nascimento até aos 6 anos de idade, é um período crucial e decisivo, correspondendo a uma janela de oportunidade única para o desenvolvimento de qualquer criança.
Relativamente a esta fase, são vários os estudos que demonstram que a evolução do cérebro acontece a um ritmo incrível, com o estabelecimento de cerca de 1 milhão de conexões neuronais por segundo. Todas estas conexões são a base das estruturas cerebrais que tanto contribuem para um processo de desenvolvimento e aprendizagem.
Trata-se efetivamente de um período importantíssimo, pautado por uma velocidade verdadeiramente única, distinta de qualquer outra altura da vida.
Este “boom” de crescimento nos primeiros anos de vida, que acontece à velocidade da luz, é denominado de plasticidade cerebral. Por outras palavras, significa que o cérebro da criança se encontra mais predisposto à realização de aprendizagens, quando verdadeiramente estimulado, sobretudo, com o que está presente nos contextos naturais da criança, ou seja, locais onde a criança passa muito do seu tempo. Os fatores de origem biológica, interferem naturalmente neste processo, mas o estímulo contextual revela-se igualmente preponderante. Um exemplo desta predisposição é a capacidade incrível de crianças oriundas de famílias bilingues, aprenderem mais do que uma língua em idades precoces, algo bem mais difícil em idades posteriores.
Intervenção precoce… melhor prognóstico de evolução.
Consequentemente, e como referido anteriormente, quanto mais precocemente a criança for estimulada, maior será a probabilidade de responder positivamente e, naturalmente, melhor será a aquisição de capacidades que permitirão aprendizagens sólidas e significativas.
Por conseguinte, uma avaliação especializada, se possível e caso se justifique, de caráter multidisciplinar, mostra-se o ingrediente fundamental para clarificar, tranquilizar e criar caminhos que possam ir de encontro às necessidades reais da criança. Tudo isto considerando sempre a participação desta nos seus contextos naturais (sejam eles o domicílio, a creche, a casa dos avós, o jardim de infância ou outros).
Acreditar na criança e capacitar a família deverá ser sempre um denominador na relação terapeuta – família, tendo sempre como propósito comum: “Todas as crianças têm em si um potencial para serem fantásticas. É o nosso dever criar um mundo fantástico no qual esse potencial possa florescer” (Stanley Greespan).