Hoje em dia, cada vez mais se fala da Perturbação do Espetro do Autismo (PEA), face à intensidade da sintomatologia e à complexidade que acarreta nas suas várias dimensões, mas também pela sua genialidade singular.
Também é muito comum associar-se o diagnóstico de PEA ao género masculino. Na verdade, de acordo com as estimativas mais recentes, a prevalência global mostra que é três vezes mais frequente nos rapazes, sendo a intensidade e gravidade dos sintomas também mais comum.
Há de facto, estudos de cariz genético indicadores de variações no desenvolvimento embrionário do sistema nervoso central de meninos e meninas, fator que pode justificar as diferenças encontradas na sintomatologia da PEA. Talvez por isso seja mais fácil as raparigas conseguirem ter melhores competências do ponto de vista social, serem capazes de imitar comportamentos socialmente desejáveis e, lá está, camuflarem, com maior facilidade, a sintomatologia.
DESENVOLVIMENTO NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA
A melhor forma de percebermos e avaliarmos o caminho de desenvolvimento de uma criança é analisarmos, com pormenor, os seus primeiros anos de vida.
Neste período, com maior ênfase dos 6 meses aos 3 anos, espera-se que a criança apresente boas competências de interação e comunicação. Quando se notam fragilidades nestas duas áreas, nomeadamente a ausência de sorriso social, não apontar para fazer pedidos, não responder ao nome, apresentar um contacto ocular pouco consistente, ter um maior prazer em se isolar, não se envolver em brincadeiras (cócegas, bater palmas), apresentar comportamentos repetitivos como rodar ou alinhar objetos, não usar frases de duas palavras… devemos estar atentos!
De facto, há crianças do género feminino que, efetivamente, têm muitos sinais compatíveis com o diagnóstico de PEA. Contudo, há muitas outras que apresentam sinais ténues e com menor intensidade e frequência.
SINAIS DE ALERTA
Na infância:
- Sensibilidade a estímulos auditivos externos;
- Agitação psicomotora;
- Contacto ocular fugaz;
- Interesses marcados, na sua maioria diferentes ou de forma mais intensa, relativamente aos pares da sua idade
- Rigidez nas regras sociais e reduzida flexibilidade de ajuste social;
- Preferência por brincarem sozinhas;
- Alterações na entoação e som da fala;
- Repetição e pouca elaboração de momentos de jogo simbólico.
Na adolescência:
- Dificuldade na manutenção de relações de amizade;
- Rigidez nas regras sociais e reduzida flexibilidade de ajuste social;
- Falar demasiado, mas sem envolver o outro;
- Partilha excessiva de informação pessoal;
- Reduzida espontaneidade;
- Alterações na entoação e som da fala;
- Contacto ocular por vezes fugaz, mas com expressões faciais variadas;
- Necessidade de maior isolamento social;
- Ansiedade social.
A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE
Pelo que é acima referido, a grande maioria das raparigas com PEA são sinalizadas no período da adolescência, quando a intensidade e frequência dos sintomas começa a apresentar uma interferência significativa nas esferas social, escolar e familiar.
É sobre este universo, tantas vezes mascarado, que é preciso ter uma atenção particular. São vários os casos que, por terem sido tardiamente diagnosticados, geram sofrimento, incompreensão e perdem uma janela de oportunidade de intervenção e a possibilidade de um melhor prognóstico.
Considerando este cenário, mostra-se essencial garantir uma avaliação especializada com recurso a testes de avaliação específicos e robustos, como é o caso da Autism Diagnostic Interview – Revised (ADI-R) e Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS-2).
Percebendo com pormenor a especificidade da sintomatologia da criança, torna o percurso mais claro para ajudá-la a expressar todo o seu potencial, com as suas incríveis características, nos diversos contextos em que se insere.