O termo Dificuldades de Aprendizagem Específicas começou a ser utilizado frequentemente no início dos anos 60 para descrever dificuldades escolares que não se deviam, ou não podiam ser atribuídas, a outros tipos de problemas de aprendizagem. Estão relacionadas com a forma como um aluno processa a informação ao nível da receção, integração, retenção e expressão. Podendo manifestar-se em diferentes áreas: fala, leitura, escrita e matemática (Correia, 2008).
Quando dizemos ou ouvimos expressões como: “O meu filho detesta ler!”, “Cada palavra, cada erro!”, “Para ela a matemática é um bicho de sete cabeças!”, “Tens letra de médico!” podemos estar perante Dificuldades de Aprendizagem Específicas.
É importante ter noção que nem sempre os mais famosos “vilões” como a distração, a preguiça e a infantilidade, são os responsáveis pelas dificuldades de leitura, problemas de escrita, dificuldades no cálculo matemático, baixo rendimento e desmotivação escolar de alguns alunos.
CAUSAS
É conveniente salientar que estas dificuldades não se devem a um baixo nível intelectual, a perturbações emocionais, sociais ou a ensino inadequado, têm uma origem neurológica e provocam uma discrepância entre o potencial intelectual e o rendimento escolar.
Investigadores de referência nesta área distinguem seis categorias de dificuldades de aprendizagem específicas (Correia, 2008):
- Auditivo-linguística (problemas de perceção que dificultam a execução ou compreensão de instruções);
- Visuoespacial (problemas em diferenciar estímulos essenciais de secundários, em visualizar orientações no espaço);
- Motora (problemas de coordenação global e/ou fina);
- Organizacional (dificuldades quanto à localização do princípio, meio e fim de uma tarefa, dificuldades em resumir e organizar informação);
- Académica (problemas na área da matemática, leitura e escrita);
- Sócio emocional (dificuldade em cumprir regras sociais, em interpretar expressões faciais).
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICA MAIS FREQUENTES
- Dislexia – dificuldades no processamento da linguagem cujo impacto reflete-se na leitura, na escrita e na soletração;
- Disgrafia – dificuldades na componente grafomotora da escrita;
- Discalculia – dificuldades na realização de cálculos matemáticos;
- Dispraxia – dificuldades na planificação motora, em coordenar adequadamente os movimentos corporais;
- Problemas de perceção auditiva – problemas em perceber as diferenças entre os sons da fala;
- Problemas de perceção visual – problemas em observar pormenores importantes e dar significado ao que é visto;
- Problemas de memória (curto e longo prazo).
AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO
Reveste-se de especial relevância clarificar e desmistificar o conceito de dificuldades de aprendizagem específicas para que pais, professores, técnicos e as próprias crianças compreendam verdadeiramente as suas origens e efeitos.
É fundamental termos consciência que estas crianças e jovens sentem-se incompreendidos e frustrados. Apesar do seu bom desenvolvimento intelectual existem áreas de aprendizagem que são árduas e desmotivantes para eles, acabando por afetar a sua autoestima e as suas relações com os colegas.
Em Psicologia é possível realizar uma avaliação cognitiva, que permite despistar entre dificuldades de aprendizagem específicas e problemas de aprendizagem, assim como, avaliar a necessidade de intervenção de diferentes valências – Psicologia, Terapia da Fala e Terapia Ocupacional -, já que estas dificuldades, dependendo da categoria em que estão inseridas, podem necessitar de intervenção de diferentes áreas clínicas.
Sendo essa intervenção não só dirigida às dificuldades específicas manifestadas, como também às alterações emocionais e sociais que estas possam provocar.