Sobre o divórcio
O divórcio é um fenómeno emocional, afetivo, económico, social e cultural, que se traduz na cisão de uma família, no seio da qual uma criança está inserida e que tem inevitavelmente efeitos no seu desenvolvimento.
Antes da separação física, ocorre a separação emocional. Muitas vezes, os efeitos de um divórcio na criança, já se fazem sentir numa fase anterior, devido aos conflitos entre os pais, instabilidade emocional, isolamento e diminuição do apoio aos filhos.
O processo de divórcio envolve três fases: Fase inicial – elevada tensão e conflito; Fase de Transição – reestruturação familiar e Estágio e reestabilização – família estabelecida pós-divórcio.
O Divórcio e as Crianças
O divórcio tem um impacto significativo nas crianças, que varia de acordo com a idade. A dependência que mantêm dos pais pode conduzir ao medo do abandono. Em crianças mais novas, podem surgir sentimentos de culpa, raiva e tristeza. Nos adolescentes, os efeitos podem estar relacionados com sentimentos de revolta e comportamentos de desafio e agressividade, por considerarem que os pais não se comprometeram com a manutenção da estabilidade familiar. Muitas vezes, afastam-se dos pais e demonstram sentimentos de frieza. Os jovens podem ainda desenvolver comportamentos desviantes, associados ao uso de álcool e drogas.
A compreensão e aceitação de que os pais se vão separar, é um processo longo e complexo, surgindo, muitas vezes, a fantasia da união, que pode ajudar no alívio da dor no momento, porém intensifica e prolonga o processo de “luto”, adiando o reajustamento à nova realidade.
É difícil prever o impacto a longo prazo, contudo, a forma como os pais lidam com a situação de divórcio, tem consequências na criança e no adolescente.
Os “filhos do divórcio”, em adultos poderão ter alguma resistência no compromisso, medo de causar sofrimento aos filhos e necessidade em protegê-los das mesmas situações traumáticas.
Importa ainda salientar que, após a decisão do divórcio, a alteração das responsabilidades parentais, acarreta, na maior parte das vezes, conflitos entre os pais, nomeadamente no que diz respeito à decisão do progenitor que deve ficar com a guarda parental ou se consideram que a guarda partilhada é a melhor resposta para a criança.
O Divórcio e o Processo de Alienação Parental
Durante esta fase, muitas vezes, a criança é utilizada como arma por um dos progenitores, para afetar o outro. Através de estratégias de manipulação, induz a criança a sentir raiva pelo progenitor, até romper os laços afetivos com o mesmo, causando sentimentos de ansiedade, medo, culpa e tristeza.
Existem três níveis de intensidade no processo de alienação parental. No que diz respeito ao nível I (leve), os filhos apresentam um forte vínculo afetivo com ambos os pais e os períodos de separação são curtos e sem grandes conflitos. Aqui começam a surgir esquecimento no aviso ao outro progenitor de compromissos e eventos.
No nível II (médio) surgem conflitos mais graves, nomeadamente nas entregas. Um dos progenitores começa a afastar a criança do outro, destruindo o seu laço afetivo. A criança começa a recusar as visitas.
Em relação ao nível III (grave), as crianças demonstram sentimentos de raiva e revolta contra um dos progenitores. O comportamento da criança torna-se agressivo e violento. Nesta fase podem ocorrer crises de pânico antes das visitas.
Perante uma situação de divórcio, as crianças sentem-se assustadas, perdidas e confusas. Deste modo, é importante que os pais estejam atentos a mudanças comportamentais nos seus filhos, como episódios de choro fácil, apatia, isolamento, agressividade, entre outros e procurarem apoio especializado que promova o bem-estar emocional da criança ou adolescente, ao longo do processo de adaptação às mudanças na estrutura familiar.