A COVID-19 levou-nos a incluir nas nossas rotinas, entre outras, o uso generalizado das máscaras faciais, como medida de prevenção à propagação do vírus. Sucede que, os benefícios imediatos da sua utilização tem revelado, em contrapartida, um aumento do número de casos de crianças, em diferentes faixas etárias, que demonstram atraso na aquisição de vários marcos de desenvolvimento da comunicação e linguagem, com impacto direto nas competências de socialização e interação.
Fase pré-linguística
Na fase pré-linguística (primeiro ano de vida), o bebé através de trocas recíprocas entre estímulos-resposta com o interlocutor, aprende a dar intenção ao choro, a sorrir para exprimir agrado e a produzir os primeiros sons. No entanto, com o uso de máscara o bebé não realiza a leitura correta da linguagem não verbal do parceiro comunicativo, afetando dessa forma o seu desenvolvimento psico-motor e social.
Fase de aquisição fonológica
Crianças em fase de aquisição fonológica (primeiros 3 anos), onde ainda está emergente a consciência do som, necessitam dos estímulos visuais produzidos pela boca dos adultos para aprender a posicionar corretamente a língua, as bochechas e os lábios em cada fonema. Uma vez que o uso de máscara dificulta o acesso ao ponto articulatório, também o desenvolvimento fonológico pode sofrer atrasos.
Idade escolar
Crianças em idade escolar, principalmente no primeiro ano, onde são adquiridos os pilares das competências para a aquisição da leitura e escrita, é fundamental o apoio visual da leitura labial do seu professor, para melhor compreenderem a associação do fonema ao grafema. O uso de máscara obrigatório pela equipa docente, vem desta forma dificultar a aprendizagem harmoniosa da leitura e da escrita dos alunos.
Desenvolvimento das relações sociais e emocionais
O uso da máscara compromete, também, a clareza com que as crianças compreendem, e consequentemente transmitem, uma mensagem ao parceiro comunicativo, pois para além de não ser transmitida a expressão facial, também ocorre uma distorção do som que modifica a melodia, a entoação e a intensidade da mensagem. Sendo assim, o desenvolvimento das relações sociais e emocionais também fica perturbado.
Perturbação da voz
Além das preocupações debruçadas sobre prováveis atrasos na área da linguagem verbal e não verbal, os cuidadores devem estar atentos à voz das suas crianças. Isto porque, o uso prolongado de máscaras provoca alterações na qualidade e intensidade vocal e atendendo ao facto de que a maioria das disfonias se inicia na infância, é crucial ter em atenção os sinais de alerta para uma perturbação da voz do seu filho: rouquidão persistente, perda de voz, dor ou muito esforço na zona do pescoço, cansaço na fala/canto.
Estudos comprovam que as máscaras cirúrgicas são as que menos afetam a emissão vocal.
A importância da avaliação pelo Terapeuta da Fala
A avaliação atempada em terapia da fala pediátrica é fundamental na determinação do nível de desenvolvimento da criança.
A intervenção terapêutica numa fase precoce, estimula as competências de comunicação e interação e contribuirão para a aquisição das competências esperadas para a faixa etária da criança.