“Numa sociedade em que não há divergência, ou na qual a divergência não é permitida, a palavra adolescente perde o sentido.”
E. Z. Friedenberg
A adolescência define-se como uma fase emocionante e ameaçadora, repleta de desafios apaixonantes e saudáveis, de turbulentas inquietudes, onde nascem novas perspetivas e oportunidades.
Associa-se à transição do final da infância até ao limiar da maturidade, traduzindo-se por um período de evolução das capacidades cognitivas, emocionais e sociais, que envolve uma panóplia de manifestações no indivíduo. É um período de readaptação, formação e identificação.
Embora a identidade seja construída ao longo da vida, é durante a fase da adolescência que variadas características são exteriorizadas de forma mais intensa, como a sexualidade, desejos, crenças e objetivos de vida.
O FENÓMENO DA PUBERDADE
De acordo com Erikson, o desenvolvimento humano inicia o seu percurso pelo domínio biológico, evoluindo para o individual e social, sendo o desencadear de transformações biopsicossociais, que se desenvolvem ao longo da vida do indivíduo. Do ponto de vista biológico, corresponde ao fenómeno da puberdade, que designa o período de mudanças morfológicas e fisiológicas (formato, tamanho e função), com o desenvolvimento das características sexuais secundárias, através da maturação da mulher e do homem, nomeadamente da sua capacidade de fecundação. Nesta fase, surge a menarca na rapariga, que se caracteriza pela primeira menstruação. Ocorrem alterações da voz nos rapazes e mudanças acentuadas no desenho corporal das raparigas.
A puberdade envolve-se de símbolos e significados provenientes do contexto histórico-social e de interpretações do seu mundo pessoal e interpessoal. Deste modo, os fatores extrínsecos, associados ao ambiente, interferem de forma significativa na maturação.
A IMAGEM CORPORAL
A forma como o adolescente percebe o seu corpo é fundamental na formação da sua identidade. Compreender o adolescente, abrange o conhecimento da sua autoestima e imagem corporal. A imagem corporal reflete a figura, construída na mente, do próprio corpo e a autoestima o conjunto de crenças que o sujeito tem de si. O componente afetivo aliado à imagem corporal, traduz-se na satisfação corporal, fundamental na autoaceitação. Todavia, quando o adolescente se sente insatisfeito com o seu corpo, é envolvido por pensamentos e sentimentos negativos em relação à aparência física, tendo consequências no seu bem-estar emocional. Na sociedade, a busca pelo corpo ideal, influenciada pelo grupo de pares e redes sociais, realça a valorização da magreza na mulher e na força do homem. Quando o adolescente se observa como excluído desse padrão idealizado, surge a insatisfação com o seu corpo e a baixa autoestima, levando a alterações comportamentais, tais como a restrição de uso de roupas, dietas restritivas, prática exagerada de exercício físico, consumo de álcool e drogas, entre outros.
A EMANCIPAÇÃO
O adolescente transita entre a dependência infantil e a emancipação do jovem adulto. Conquista o espaço intelectual através de interesses culturais distintos, o espaço afetivo ao descobrir novas formas de viver as emoções e o espaço social com a descoberta de toda a diversidade da sociedade, que vai além do contexto familiar e escolar. A família nuclear deixa de ser vista como o seu porto seguro, encontrando no grupo de pares o seu grande pilar estrutural e emocional.
É na adolescência que o indivíduo percebe o quanto precisa do outro, biológica, social e emocionalmente, para ser ele próprio.
Neste período surgem inquietações, dúvidas e inseguranças, que tornam os adolescentes mais vulneráveis e ansiosos, nomeadamente no que concerne à construção da sua identidade. As emoções descontrolam-se e o adolescente sente-se confuso, com dificuldade em verbalizar e gerir o turbilhão emocional que vivencia, sendo invadido por um mal-estar que traduz em atos impulsivos ou de fuga emocional.
A SEXUALIDADE
Com a adolescência, surge o despertar para a sexualidade, onde a orientação sexual começa a ser delineada, todavia é um complexo processo biopsicológico e social, com oscilações e alterações ao longo do tempo e de acordo com a maturidade. Deste modo, durante este processo, os jovens buscam incessantemente por respostas a questões de identidade de género, expressão de género e orientação sexual, sendo que, muitas vezes, na impossibilidade ou dificuldade de as alcançar, desenvolvem comportamentos disruptivos, sintomas de ansiedade excessiva e elevada labilidade emocional. Cada escolha tem as suas consequências, sendo que, muitas vezes, esta acarreta dificuldades de aceitação da sociedade, da própria família e amigos.
OS COMPORTAMENTOS DE RISCO E A SAÚDE MENTAL
O ambiente familiar e a relação que o adolescente mantém com o seu grupo de pares é determinante para a sua saúde mental. A existência de vivências desajustadas nos diferentes contextos de vida, podem conduzir a graves problemas emocionais. Alguns jovens sentem-se incompreendidos no seio familiar e no contexto social em que se inserem, outros vivenciam episódios de bullying, discriminação e até mesmo violência física e psicológica. As exigências escolares aumentam, a perspetiva do mundo profissional com suas dúvidas, a alteração das figuras de referência e os conflitos com os progenitores, tudo decorre na adolescência.
Nesta fase podem surgir comportamentos de risco, através da participação dos adolescentes em atividades que podem comprometer a sua saúde física e mental. Estas atividades podem ser realizadas por exploração, influência do grupo de pares ou de familiares. Os comportamentos de risco mais relevantes são os aspetos clínicos, nutricionais, violência, sexualidade, saúde mental e o uso de álcool e drogas. É fundamental identificar tais condutas, precocemente, uma vez que a sua consolidação traz consequências no domínio individual, familiar e social.
Como consequência a tais vivências disruptivas, o adolescente pode começar a apresentar sintomas como apatia, tristeza, desesperança, baixa autoestima e autoconceito, crises de ansiedade, ideação suicida, colocando em risco o seu bem-estar físico e emocional.
Daí ser fundamental, um acompanhamento efetuado por profissionais especializados, por forma a contribuir eficazmente para o desenvolvimento saudável da estabilidade emocional do jovem.