Durante uma interação, a informação transmitida é 55% por meio da linguagem não verbal, 38% pela voz e apenas 7% por palavras. A linguagem não verbal inclui inúmeras componentes, nomeadamente signos que não são utilizados na linguagem escrita ou verbal oral.
Focando nos gestos comunicacionais, todas as pessoas, umas mais do que outras, usam-nos durante um processo de comunicação. A relação entre os gestos naturais e a linguagem tem sido debatida ao longo dos últimos anos. É consensual que as pessoas não comunicam, unicamente, através da linguagem verbal, mas também por meio da linguagem não verbal, sendo os gestos comunicacionais, um dos parâmetros mais recrutados.
Os gestos comunicacionais
Neste ponto, importa salientar que os gestos comunicacionais têm, geralmente, um significado universal, podendo ser classificados em algumas categorias (reguladores, adaptadores, ilustradores e emblemáticos), mas não podem, de forma alguma, ser confundidos com os gestos das línguas gestuais. Estes – gestos das línguas gestuais – não são universais e apresentam as mesmas propriedades que as outras línguas orais: sintaxe, semântica, fonologia, morfologia e pragmática.
As competências comunicativas são a base de desenvolvimento da fala
As primeiras palavras produzidas pela criança é um acontecimento memorável para toda a sua família. Contudo, é crucial que a criança antes de começar a falar, adquira competências comunicativas, sendo estas a base para todo o seu desenvolvimento. Na verdade, o gesto é a forma mais completa que as crianças têm para comunicar as suas necessidades, enquanto ainda não apresentam competências para produzir palavras.
Os gestos naturais são considerados as primeiras formas de comunicação.
Naturalmente, com a evolução da criança, a sua função vai sendo modificada. Inicialmente, o gesto encontra-se mais associado ao contexto onde é utilizado. As primeiras formas combinadas entre o gesto e a palavra, ocorrem em situações de suporte, ou seja, o gesto é usado para suportar a mensagem associada à palavra. Esta situação está patente, por exemplo, quando a criança diz “olá”, fazendo simultaneamente o gesto correspondente.
Posteriormente, surgem outras combinações entre o gesto e a palavra, concretamente, quando o gesto é usado para identificar um determinado referente. Estas combinações ocorrem, por exemplo, quando a criança aponta para a bola e diz “bola”.
É esperado, mais tarde, que a criança consiga fazer combinações mais complexas, nomeadamente, usar gestos que acrescentem informações adicionais. Por exemplo, quando aponta para a água e diz “beber”.
Desenvolvimento dos gestos
Existem alguns marcos importantes, relativamente aos gestos, apesar de não ser sempre igual para cada criança. Especificamente, é esperado que:
- Entre os 8 e os 9 meses as crianças comecem a usar alguns gestos. Nesta fase, a criança gosta de dar objetos ao adulto, exibindo-os com muito agrado;
- Por volta dos 10 meses, poderá esticar a mão para algo que deseja ver concretizado;
- O gesto do apontar, surgirá por volta dos 12 meses, associado a alguma intenção comunicativa;
- Com 18 meses, é esperado um padrão mais maduro, usando gestos em simultâneo com a fala.
Por um lado, os gestos naturais podem ser perspetivados como uma forma alternativa à comunicação, quando a criança ainda não domina a linguagem verbal oral, por outro, são essenciais para o desenvolvimento da linguagem da criança, uma vez que representam a forma básica para que a mesma consiga iniciar a construção de conceitos.
O papel do terapeuta da fala nas dificuldades de comunicação
Quando a criança manifesta dificuldades ao nível da comunicação, o terapeuta da fala pode ajudar. Primeiramente, deverá compreender como é que a criança faz para comunicar com os outros interlocutores. Na interação, deverá implementar gestos, assim como valorizar e enfatizar os gestos utilizados pela criança. O terapeuta da fala responderá à iniciativa da criança, não só com gestos, mas com palavras, frases e ações, ajudando-a a construir o significado para a situação comunicativa que se encontra a decorrer. Deste modo, a criança irá aprender novos conceitos, apresentando, mais tarde, competências para os produzir.