A normal respiração em repouso deverá ser realizada pelo nariz. O nariz apresenta propriedades específicas que permitem filtrar, aquecer e humedecer o ar, permitindo que ele chegue tratado aos pulmões.
Quando existe alguma complicação que dificulte a passagem do ar pelo nariz, a respiração passa a ser realizada pela boca (Respiração oral). Essas complicações podem ser constipações, desvio do septo nasal, hipertrofia das amígdalas ou adenoides, problemas respiratórios, como asma, ou outras causas de base alérgica. Os hábitos orais deletérios, como o uso prolongado de chupeta e biberão, também contribuem para a instalação do modo respiratório oral, por alteração da postura das estruturas em repouso.
Para que a respiração seja realizada pela boca, basta haver uma obstrução parcial das vias aéreas superiores. Em muitos casos, após o período de complicação, a respiração nasal não é restabelecida, instalando-se o hábito da respiração oral.
Quais os impactos da respiração oral?
Quando o ar chega aos pulmões pela via oral, não recebe o tratamento inicial, aumentando o risco de doenças respiratórias.
Para que o ar possa circular pela boca durante a respiração, a língua terá de adotar uma postura mais baixa e a cabeça compensar com um movimento de projeção anterior. Todas estas adaptações do corpo podem causar desequilíbrios nos músculos e estruturas faciais, comprometendo o seu normal crescimento.
A postura da língua em repouso apresenta um papel fundamental para a implantação dentária, juntamente com a musculatura das bochechas. A formação das arcadas dentárias é frequentemente afetada pela respiração oral, dado que existe um desequilíbrio das forças musculares orofaciais e a alteração da postura da língua em repouso.
Os canais auditivos apresentam ligação à cavidade nasal, sendo a sua limpeza realizada com a passagem do ar pelo nariz. Na respiração oral, dá-se um grande aumento do risco de entupimento dos canais auditivos, por acumulação do líquido ceroso, podendo causar perdas temporárias ou permanentes da audição e otites recorrentes.
A qualidade do sono é, muitas vezes, afetada nas crianças respiradoras orais, fazendo com que se sintam cansadas, com um aspeto preguiçoso, sonolentas, menos ativas. O sono pouco reparador irá conduzir a alterações no desenvolvimento da criança, bem como nas aquisições das aprendizagens escolares. As alterações emocionais são também uma consequência da fadiga física, levando a criança a estar mais irritadiça, menos tolerante e com menor resistência à frustração.
Qual a relação da respiração oral com a fala?
A fala representa um ato motor de articulação dos sons. Sendo a fala um ato motor, os músculos faciais estão diretamente envolvidos. Na respiração oral verifica-se uma diminuição da força e mobilidade muscular. A articulação dos sons da fala pode estar comprometida por diminuição dessas forças, surgindo um discurso mais infantilizado e impreciso.
De acordo com o que foi referido, a respiração oral pode também interferir com a acuidade auditiva. Se a criança ouvir o mundo à sua volta com ruído ou de forma distorcida, a sua reprodução dos sons será realizada consoante o que ouve. Uma perda auditiva, ainda que ligeira, terá impacto na normal aquisição dos sons da fala.
Principais sinais de alerta para a respiração oral
- Lábios constantemente entreabertos;
- Presença de sialorreia (baba);
- Sono agitado, com ronco ou apneias;
- Aspeto frequentemente cansado;
- Presença de olheiras;
- Narinas estreitas.
Qual o papel do Terapeuta da fala?
O Terapeuta da Fala procura estabelecer um equilíbrio entre a forma (dentes e ossos) e a função (respiração, atividade muscular) através da terapia miofuncional. Para isso, desenvolve um conjunto de estratégias para consciencialização da respiração e de adaptação das rotinas da criança, associadas a exercícios de reforço muscular e de (re)educação da respiração.
Uma avaliação no médico Otorrinolaringologista será sempre importante para o despiste de alguma obstrução nasal que comprometa a normal passagem do fluxo de ar pelo nariz.