Os sistemas sensoriais permitem a deteção e perceção das informações sensoriais do ambiente interno e externo, enviando-as posteriormente para o cérebro, onde são processadas e interpretadas. Além dos 5 sistemas sensoriais mais conhecidos: auditivo, visual, olfativo, tátil e gustativo, existem também os sistemas propriocetivo, vestibular e interocetivo. A informação sensorial chega ao cérebro da criança desde o início da sua vida, permitindo que este se desenvolva de forma a que esta seja capaz de se adaptar ao mundo que a rodeia e crescer de forma saudável.
A importância no desenvolvimento da criança
O sistema propriocetivo desempenha um papel fundamental para o desenvolvimento da criança. Os recetores deste sistema sensorial estão localizados nos músculos, articulações e ligamentos, tendo como principal função fornecer informação ao cérebro sobre a posição do corpo no espaço, a velocidade e direção dos movimentos e a quantidade de força que os músculos exercem ou devem exercer.
No cérebro, a informação propriocetiva, juntamente com a de outros sistemas sensoriais, permitem o desenvolvimento de capacidades como o controlo motor, a estabilidade postural, o planeamento motor, a consciência corporal, a graduação do movimento e o esquema corporal. Por exemplo, é graças a esta informação que a criança consegue percorrer um corredor sem bater contra os móveis, saber a distância que deve manter quando conversa com uma pessoa para não ficar demasiado perto ou longe dela, planear a pressão necessária a exercer para não partir o bico do lápis ou um brinquedo, alterar as suas ações quando estas não foram bem sucedidas, por exemplo, quando lança uma bola e esta não acertou no alvo, entre outras.
Além disso, este sistema sensorial tem um papel importante no processamento sensorial, uma vez que o input propriocetivo ajuda a controlar a resposta a outros estímulos sensoriais.
Quando existe alguma disfunção no processamento da informação propriocetiva pode haver um comprometimento do desenvolvimento das capacidades referidas anteriormente, resultando numa limitação no desempenho e participação nas atividades de vida diária (por exemplo, alimentação, vestir/despir, higiene pessoal), participação social, atividades académicas e no brincar.
Sinais de alerta para a disfunção propriocetiva
- Dificuldade em ajustar a postura durante o brincar;
- Dificuldade em posicionar o corpo quando se está a vestir ou despir;
- Procura excessiva de atividades com impacto (p. ex. empurrar, puxar, arrastar, levantar e saltar);
- Cai ou tropeça frequentemente;
- Pobre doseamento da força (excessiva ou ineficiente) com o lápis ou com os objetos;
- Exerce demasiada pressão nas tarefas (p. ex. bate com os pés com demasiada força no chão ao caminhar; abre e fecha as portas com força excessiva);
- Anda em pontas dos pés;
- Bate contra os obstáculos ou enquanto caminha;
- Dificuldade nas competências motoras globais (p. ex. subir ou descer escadas);
- Descoordenação motora;
- Dificuldade na prática de desportos;
- Fadiga motora frequente com o mínimo de esforço físico;
- Pobre controlo postural (p. ex. segura na cabeça com a mão quando está sentada na mesa; escorrega na cadeira quando está sentada);
- Agarra ou abraça os colegas com demasiada força;
- Morde objetos ou a própria roupa com maior frequência que as outras crianças;
- Dificuldade nas tarefas motoras finas.
Avaliação e Intervenção
Perante algum destes sinais de alerta é importante a avaliação com Terapeuta Ocupacional especializado em Integração Sensorial, de forma a compreender quais são as alterações sensoriais que estão na base das dificuldades apresentadas pela criança e, assim, planear uma intervenção mais eficaz que vise promover a autonomia e a participação nos diferentes contextos em que a criança se insere.